Artigo: “O voto de qualidade e o imposto do dia a dia”

por Agência Sindifisco Floripa

Em 07/07/2022

*por Carlos André Soares Nogueira
Vice-presidente da Delegacia Sindical do Sindifisco Nacional em Florianópolis
07/07/2022

Quando ouvem falar do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), as pessoas devem se perguntar: o que isso tem a ver com a minha vida? Mais do que você imagina!

Com o fim do voto de qualidade no CARF, que garantia ao representante do Fisco o desempate do julgamento, o aumento da carga tributária passou a ser inevitável. É no CARF que são julgados em segunda instância administrativa os autos de infração lançados pela Receita Federal. Sem esse instrumento, grandes grupos econômicos deixam de recolher bilhões em impostos e contribuições em casos de empate. Quem paga a conta da quebra na arrecadação? É o governo? Não! São as pessoas comuns, os pequenos empresários.

Quando os tributos devidos pelos conglomerados econômicos não são recolhidos, o governo não tem como reduzir a carga tributária que recai sobre a sociedade. Assim, por exemplo, não corrige a tabela do Imposto de Renda, não reduz impostos sobre mercadorias e serviços e não amplia o Simples. Não à toa, houve aumento de 2 milhões de declarações do IR entregues em 2022. O congelamento do limite de isenção, diante de uma inflação de 10% ao ano, obrigou muitos a apresentarem declaração.

O voto de qualidade no CARF era um instrumento importante para resolver questões tributárias: foi usado em 32% das decisões favoráveis ao Fisco nos processos acima de R$ 1 bilhão. Na outra ponta, representava menos de 10% nos processos até R$ 1 milhão.

Agora, a proposta que está tramitando no Congresso e cria o Código de Defesa do Contribuinte, traz dispositivo para estender o fim do voto de qualidade a todas as administrações tributárias de Estados e Municípios. Pesquisa com os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que nenhum país adota o nosso modelo de processo tributário. O processo administrativo fiscal brasileiro é moroso, chegando a levar 10 anos, enquanto na maioria dos países pesquisados dura até 2 anos, é ineficaz para cobrar o que é devido e para dar segurança ao bom contribuinte.

O fim do voto de qualidade e a possibilidade de fazer o mesmo nas administrações estaduais e municipais não resolvem nenhum dos problemas e contribui para que a tributação seja injusta. Urge reconstruir o processo administrativo fiscal que recupere seu caráter administrativo, seja resolvido em tempo razoável, com maior segurança jurídica e mais justo.

*Artigo publicado no Jornal Notícias do Dia

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