Passados 18 dias de expectativas, a sentença dos acusados de matar o Auditor-Fiscal José Antônio Sevilha enfim foi proferida com a resposta que todos esperam há 17 anos: a condenação dos réus. O juiz que preside a sessão, Cristiano Manfrin, sentenciou Marcos Oliveras Gotllieb, dono da empresa Gemini, que era investigada por Sevilha por fraude no processo de importação de brinquedos, a 30 anos de pena em regime fechado. Fernando Ranea, acusado de ser um dos assassinos, responderá a 32 anos e oito meses de reclusão. Já o terceiro réu, acusado de ter sido o intermediador entre Gotllieb e os executores, foi absolvido por não ter intenção de apresentar uma pessoa com propósitos homicidas.
A proclamação saiu na madrugada de sábado (22) resultado da decisão do Conselho de Sentença, que julgou que a dupla seria condenada por crime duplamente qualificado por motivo torpe e emboscada. Ranea teve uma pena agravada por cometer ainda o delito de falsidade ideológica. Outros dois acusados foram apontados pela investigação da Polícia Federal: Jorge Talarico, policial civil que morreu na prisão, e Wilson Rodrigues da Silva, que nunca foi localizado.
Sensação de justiça
O procurador da República Rafael Parreira foi um dos três acusadores que trabalhou em parceria com os advogados de acusação pelo êxito no resultado. “Depois de 17 anos de uma longa espera da sociedade e de uma família enlutada, depois de 18 longos dias de trabalho, enfim, a sociedade maringaense deu uma reposta, deu um basta na impunidade. O executor e o mandante foram condenados com pena máxima para o crime de homicídio e o Ministério Público sai com uma sensação de dever cumprido, de poder ter dado um pouco de acalento para essa família que tanto sofreu e tanto esperou para que a justiça fosse entregue”, disse.
O advogado contratado pelo Sindifisco Nacional para atuar como assistente na acusação e representante da família da vítima, Odel Antun, rememorou os momentos difíceis pelo qual passou ao longo de 14 anos de trabalho em cima desse processo penal. “Foi um processo bastante longo, com diversos problemas no caminho. Tivemos uma série de questões pela própria complexidade do feito. Depois, quando estava tudo pronto para o julgamento, o advogado de defesa de um dos réus abandonou o caso. Fora diversas questões processuais causadas por abuso de poder de direito da defesa do réu Marcos Gotllieb. Agora, finalmente, conseguimos encerrar esse julgamento com a sensação de trabalho realizado. De, pelo menos, conseguir entregar uma resposta, tanto para a classe dos Auditores quanto para a família”, comemorou.
Muito emocionada, a viúva de José Antônio Sevilha traduziu o momento da proclamação da sentença como um misto de alegria e de agradecimento. “Se não fosse a ajuda do sindicato, da procuradoria da República, do advogado de acusação, talvez eu não tivesse conseguido chegar aonde cheguei”, disse.
Sobre os potenciais riscos que os Auditores correm no cumprimento da função do cargo, ela fez um alerta: “A maioria ainda não percebe o risco que corre todos os dias, quando sai de casa para trabalhar. Não quero que nenhuma outra família passe por aquilo que passamos. Esse crime não foi um crime só contra o meu marido, contra a minha família. Foi um crime contra o Estado, contra a instituição Receita Federal”, assegurou Mariângela Sevilha.
Rodeada de parentes enquanto acompanhava esse momento decisivo em sua vida, ela resumiu o que sentia naquele momento: “Muita paz. Porque agora eu sei que a justiça foi feita. Meu marido vai ter condições de descansar em paz”, disse, emocionada.
Condições de trabalho
Para o diretor-adjunto de Defesa Profissional, Auditor-Fiscal Glauco Eggers, que esteve em Maringá nos últimos dias, o resultado do júri traz satisfação e preenche uma lacuna para um caso tão emblemático e de grande repercussão. “Essa é uma resposta à sociedade brasileira e às agressões que acontecem com Auditores em todo país, pois são vários os casos de colegas que morreram, além de outros que sofreram atentados, mas que, felizmente, escaparam com vida. Acho que aqui fez-se justiça”, exclamou.
O delegado da DRF de Maringá, Auditor-Fiscal Marcos Wanderley de Souza, também compartilha o sentimento de que a condenação é uma mostra de que o crime não compensa. “Pode tardar, mas a justiça chega. Então, recebemos essa sentença como uma satisfação à sociedade, à memória de Sevilha e aos familiares que passaram esses 17 anos de angústia. Quando o crime envolve bastante dinheiro, quando o poder econômico é forte nesses casos, é preciso essa demonstração de que o braço do Estado também é forte para evitar que novos crimes como esse aconteçam”, completou.
*COM INFORMAÇÕES DE SINDIFISCO NACIONAL
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